Cuidado com o Rafeiro! Não é que morda, mas podes pisá-lo sem querer...

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

É louco (Ência, ou o nascimento de algo)


De repente, todo o meu mundo líquido se drenou…pelo que diziam as leis da biologia que me obriguei a intuir, estava na hora. Era este o momento!

Algures, entre Meca e o Dubai, minha Mãe tinha emprenhado 176 dias antes. A sua vontade de se libertar do que nunca tinha tido levara-a ali, àquela areia quente, àquele vulto masculino, a fazer parte daquelas duas sombras nocturnas de gente. Pouco passava das quatro da manhã.

Sensualmente espalhou perfume em si. Desesperadamente sorria. Silenciosamente foi-se aconchegando no chão. Nunca imaginou fazer tal coisa na areia! Muito menos ali, naquela luz cega e insinuada. Aliás, pelo que ela me ia cantando pelas paredes uterinas - entre um choro sorrido e um sorriso molhado - nunca o tinha pensado fazer, ponto final. Mas sem perceber muito bem como, ali estava, aberta como a claridade lunar, brilhante como o deserto.

“Não me tocas?” perguntou ela;

“Não me pediste para ver a cor do amor?” respondeu uma voz densa, que cada vez mais parecia não passar disso mesmo;

“Sim, era esse o objectivo, ver a côr…mas não posso também cheirar o grito? Tocar o aroma? Ouvir o sabor? Saborear a pele?”;

“Agora não…em breve…não agora…”;

“Não sejas tão seco!”. Foram estas as últimas palavras a dois. Estava sozinha, ali. Ela, a lua, a areia, a vontade e o amor, todos se combinavam no mesmo deserto de tudo. Adormeceu pendurada na madrugada que, então, estava a acordar…

A mesma madrugada chamava por mim agora, lá fora.

“E se eu fico todo sujo?” pensei “E se aquilo sempre é o que a minha Mãe cala?”

Nada a fazer. Por esta altura já aquela quase-luz me tinha vestido, tal como fez com a noite. Já não eram as estrelas que me esperavam no mundo. Era música. A música invadiu o ambiente. A música, umas vozes e uns quantos silêncios.

Tentei lembrar-me e dali mergulhei no incógnito, desperto na madrugada, mas encolhido pelos medos alheios que me atravessavam as células.

Não foi o sol que me amparou. Nem a chuva, como me tinham prometido. Foi uma angústia feita de neblina, nevoeiro, lágrimas que se transformavam em vidro pelo negro do pensamento e que se estilhaçavam na ingratidão. Lá estava a tal multidão em alvoroço pelo que esperava não ver, ainda.

Eram feitos de nada os urros amordaçados pelo espanto. Mas chegavam e não partiam. Enchiam-me a cabeça em vagas de dor e arrepio.

“Não pode ser!” gritou uma criança, logo arrastada pelos cabelos para junto de um pai que não sabia não o ser. “Não pode ser…” murmurava o padre, pai da criança sem o saber. “Não pode ser.” chorava a mãe da criança, que aproveitava para despejar o peso do que sabia. Era o pecado que unia aquela gente a mim. Era a luxúria a nossa placenta. Era promíscuo cada centímetro do cordão que nos cozia os umbigos.

Sem esperar que me tocassem, olhei uma última vez para a minha Mãe, agarrei todo o ar poluído que consegui morder, dei-lhe um trago tão fundo como a inspiração que recebi no enigma que recai silenciosamente sobre a visão do triângulo (aquele triangulo que agora se definia de novo, como antes da primeira madrugada) e…gargalhei! As minhas mais sonoras e prolongadas gargalhadas.

As primeiras, mas não as últimas. Nunca!

N…a…s…c…i!

"Este post foi elaborado por OUTRO através de uma colaboração de bloguistas onde DAMULARUSSA e IRRITADINHA forneceram as seguintes palavras: Perfume, Areia, Sujo, Musica e Seco; Vidro, Madrugada, Sujo, Seco e Dubai. BIGMAC e RAFEIRO PERFUMADO constituíram com as palavras as seguintes frases: “no enigma que recai silenciosamente sobre a visão do triângulo"; "entre Meca e o Dubai"; "e dali mergulhei no incógnito, desperto na madrugada"; "sim, esse era o objectivo, ver a côr"; "neblina, nevoeiro, lágrimas que se transformavam em vidro pelo negro do pensamento e que se estilhaçavam na ingratidão" e “Sensualmente espalhou o perfume em si.”; “Nunca imaginou fazer tal coisa na areia!”; “E se eu fico todo sujo?”; “A música invadiu o ambiente”; “Não sejas tão seco!”"

43 comentários:

  1. Uau!!! Fui a primeira!!!!

    Agora vor ler o post e já volto...

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  2. Já li o texto em outro blog e devo dizer que adorei. Está o máximo, podem continuar a escrever em conjunto.
    Bjs

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  3. Humm....
    Post novo! Mas hoje não tenho tempo para ler. Passei só para deixar um olá. Prometo que volto com mais tempo. :-)

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  4. Ainda não vi o blog do Outro, mas assim que puder vou espreitar...

    Muito giro e... nada melhor que "começar" com o som do riso!:)

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  5. Raf,

    Fico contente com as descordenações que levaram a esta excelência de texto do OUTRO, vamos descordenar isto mais vezes.

    Abraço,

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  6. Ehhhh lá... este texto foi escrito a muitas patas!!

    Beijo de enxofre

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  7. Muito bem, assim é que é, partilhar e combina-las ideias pode resultar muito bem :)Antigamente costumava "jogar" a um jogo muito engraçado que devem conhecer. Começar a escrever um texto com várias pessoas, com frases soltas, mas sem ver a frase anterior escrita pelo outro, apenas a última frase. Era o rir quando viamos o texto integral no final :P

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  8. :))

    "A sua vontade de se libertar do que nunca tinha tido levara-a ali..."

    pressuponho kés filho unico ó o mais belho né??

    gostei da profundidade ;))

    xinhuuuuuuuuuuuuuuuuuuus pa tu da lua

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  9. Rafa,está muito bem escrito, muito fixe, gostei muito pá! Parece um poema dos "Broa de Mel"...

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  10. bem pela terçeira vez leio este texto...:):)pensem já noutro...:)

    beijinhos da ci

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  11. E os parabéns também ao Raf...

    Ufff... já só falta a damula...

    ;-)

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  12. Estão a escrever muito bem...

    Isso anda mesmo com magia!!

    Um abraço

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  13. Nasceste: Tiveste sorte! Olha eu fui parido, pois como diz o poeta:

    "A RICA TEM NOME FINO
    A POBRE TEM NOME GROSSO
    A RICA TEVE UM MENINO
    A POBRE PARIU UM MOÇO"


    Até sempre
    Cordiais latidos

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  14. Parabéns aos autores. Espero ler mais textos soltos escrito por vocês.

    Uma braçada amiga

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  15. Parabens :)
    Está muito bom... :)
    Excelente ideia meninos e meninas ;)

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  16. Não está nada mal, nãi senhora.Não deves ter muito que fazer, é o que é!

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  17. Só tenho uma coisa a dizer: rendo-me ao poder de escrita do(s) autor(es) deste texto!!

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  18. Junto o meu contentamento ao vosso lendo-vos.

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  19. Um bom trabalho de equipa, sem duvida alguma. Venha o próximo!

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  20. (Está excelente!
    Reitero o teor de alguns comentários acima - parabéns aos autores!)

    Sê pois bem vindo a este mundo :)

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  21. Já não se pode ir de férias.

    Agora primeiro que ponha a escrita em dia vai ser uma trabalheira.

    P R O T E S T O!!!!!!

    Tou a ver que por cá, tá tudo muito inspirado.

    Inté

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  22. Tá "bãoe" sim senhor! Esta brindadeira de escrita a muitas mãos e patas me gusta e funciona bem, muito bem! Ainda vai dar em livro...

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  23. muito bem, o meu aplauso
    MDB

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  24. Uma vénia ao rafeiro e companhia!:) gostei muito do texto!

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  25. Aos 5 feitores deste post aqui faço uma vénia metafórica, já vou tendo alguma idade para estas coisas e tenho as artrites em fase avançada.
    Parabéns, adorei! Vão continuar...
    Não se esqueçam que "alguém" ou o outro nasceu...não o "matem" à nascença!
    Festinhas com aquelas luvas que se vendem no Bodyshop!

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  26. Mais uma vez adorei... tou me a tornar repetitiva...

    A união faz a força, e vocês provaram isso muito bem, parabéns…

    bjs

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  27. E assim vão descobrindo a afinidade das palavras num "jogo" riquissimo, esteticamente perfeito!

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  28. Está mesmo muito bom.
    Fiz uma brincadeira com uma conhecida minha, forneci as palavras:
    flatulência, unhas dos pés, chocolatinhos, cu e boi. E ela escreveu um livro com isso

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  29. Xeroso

    Só faltava vir à tua casa, dar-te os parabens pela colaboração e iniciativa.
    Já disse ao big, o Outro quando editar o book vai ter muito que dar ao dedo com os autógrafos:-)

    Beijocas

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  30. é difeirente. mas tá muito bem! os meus parbéns!

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  31. não acredito! post novo e não passou uma semana!...
    uma boa ideia e a história ficou muito interessante ...
    e, eu que tou longe não esqueci de vir aqui espreitar..

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  32. LOL...grande texto e grande ideia :D
    Continuem...

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  33. Como já referi lá na casinha do original: parabéns pela ideia excelente e pelo produto final :)

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  34. ja li os blogues indicados..esta tudo mt bem escrito!

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  35. Obrigado a todos pelos comentários. Não posso deixar de dizer, especialmente para os mais distraidos, que o mérito deste texto vai quase na totalidade para o OUTRO. Infelizmente, esse jove ao criar este texto colocou uma grande responsabilidade nos outros elementos da "tertúlia", uma vez que será difícil igualar a qualidade do mesmo.

    Um grande RAUF para todos!

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  36. Ai é???

    Atão um beijo para o OUTRO!

    Texto interessante!

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  37. Todos os talentos reunidos nesta epopeia, estão em igualdade de circunstâncias. A obra nasce por incentivo e motivação de todos. As fasquias são metas a cumprir, atribuidas apenas aos que têm força para isso... Tu pertences aos Tais.

    Saudações

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  38. Por momentos pensei que me tinha enganado na casota ...

    Mas que é um belo texto, lá isso é!

    \m/

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  39. Iston está, no mínimo, estranho, mas sem dúvida que é um exercício de escrita brilhante

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  40. Gaja Boa I, e eu, e eu???

    Obrigado, white_fox, partilho da tua opinião.

    Nefertiti, conehço uma pessoa que tb devia estar neste grupo... TU!

    Bjecas, compreendo a tua confusão. Digamos que é uma experiência alternativa.

    Yashmeen, não poderia estar mais de acordo contigo. Um grande RAUF para ti!

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