Cuidado com o Rafeiro! Não é que morda, mas podes pisá-lo sem querer...

quarta-feira, 19 de março de 2008

Este blog evacua no Acordo Ortográfico!


Hoje, pela primeira vez, não é o rafeiro que escreve este poste, mas o seu dono.

Quando iniciei esta brincadeira, procurei dotar o Rafeiro Perfumado duma personalidade que transmitisse, o mais aproximadamente possível, a minha forma de encarar a vida (à excepção da atracção por jantes de carros e nádegas de carteiros). E tem sido por esse tom que tenho pautado as minhas deambulações por este admirável mundo que é a blogosfera, opinando de forma mais ou menos séria sobre uma infinidade de temas, mas procurando simultaneamente manter um certo distanciamento em relação aos mesmos.

Mas eis que surge um assunto relativamente ao qual a minha tentativa de neutralidade bloguística é aniquilada, o famigerado Acordo Ortográfico. Desde tenra idade que me esforço por escrever de forma cuidada, procurando não dar erros e aproveitando as singularidades que a nossa língua proporciona. É pois com revolta que vejo ser aprovada uma revisão à língua portuguesa efectuada por um grupo de pseudo-intelectuais, que agiram motivados por algo que me escapa, mas que certamente não foi a defesa da nossa língua. Não compreendo como algo que afecta tão profundamente a nossa vida, a nossa cultura, a nossa identidade, seja tratado duma forma quase clandestina e nos seja colocado como um facto consumado, borrifando-se pura e simplesmente para os portugueses, que são quem verdadeiramente dá vida à língua.

Não pretendo fazer aqui uma dissertação exaustiva dos possíveis argumentos a favor ou contra esta medida, pois cada um é livre de se inteirar do assunto e formar a sua própria opinião. Pretendo tão só marcar uma posição: este blog evacua no acordo ortográfico, e nunca cederei aos novos formatos que agora pretendem impor. Se isso fizer com que mais tarde me apontem o dedo como alguém que não sabe escrever e se farta de dar erros, pois que apontem, mas os meus princípios não estão disponíveis para harmonizações linguísticas.

Quero apenas que fique claro que este grito de “revolta” não resulta nem de uma recusa em evoluir, nem de um patriotismo exacerbado. A evolução de uma língua é saudável e desejável, pois transmite a vitalidade da mesma, mas apenas quando parte de dentro e por necessidades próprias. Agora quando é imposta por critérios obscuros, quando resulta numa descaracterização linguística, num nivelamento sem preocupação com a identidade própria que lhe confere valor, então é mais que legítimo que surjam vozes discordantes, vozes que prometem continuar fieis ao português de Portugal, na mesma medida que continuarão a respeitar o português dos outros países.

Que sejamos uma alegre família de primos linguísticos, mas nunca uma união forçada de irmãos descaracterizados.

Até sempre,
Jorge

PS: dado este texto não se enquadrar no "espírito" deste blog, os comentários foram inibidos. No entanto, caso alguém queira discutir este assunto, poderá fazê-lo através do e-mail do rafeiro